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A violência da segurança
Atirar em meio ao confronto não basta para a prestação de contas A Polícia Militar do Rio de Janeiro não sai das páginas policiais. Aparece como vilã, a exemplo do que aconteceu, por duas vezes, nas duas últimas semanas. Dois inocentes, duas vítimas fatais. Para Jacqueline Muniz, pesquisadora da Universidade Candido Mendes, que tem grande conhecimento do aparelho policial brasileiro, as tragédias nas ações da PM não acontecem por acaso. Uma conversa curta com ela é suficiente para perceber que, de onde parte, a política de segurança do governo Sergio Cabral não chegará a lugar algum.
CartaCapital: A política de confronto, praticada no Rio, é uma saída para a segurança pública?
Jacqueline Muniz: É nas ações chamadas de repressivas que a polícia mostra a sua expertise. No uso da força previsível, transparente, regular, suficiente, comedido, oportuno e apropriado é que a polícia justifica e faz por merecer a procuração recebida da sociedade, quando o uso da força é necessário. Nessas situações, de alto teor de risco, é que a polícia mostra a sua superioridade de método em relação às ações de indivíduos ou de bandos armados, agindo por suas próprias razões e com seus próprios meios, normalmente violentos, ilegais e ineficazes.
CC: Essa é a diferença entre a polícia e a milícia.
JM: Sim, repressão qualificada não se confunde com confronto. No confronto só o criminoso importa: revidar, devolver a agressão, sem avaliar o preço e medir o custo. É quase uma rixa. Nesse caso, é dispensável a precisão do tiro, o alvo visado e, mais importante, o discernimento. Atirar é a melhor alternativa. Dizer que atirou em situação de confronto armado tem sido o suficiente como prestação de contas. Mas não basta.
CC: No site HTTP://www.comunidadesegura.org a senhora escreveu, em parceria com Domício Proença Filho, que a ação policial que matou o menino João, foi toda errada. O despreparo da PM seria um desses erros?
JM: Sem dúvida. Até onde sei não se dispõe no Rio de Janeiro de uma estatística de desempenho de policiais por tipo de armamento em seus treinamentos e nas ruas. O que sabemos é que o padrão de treinamento de um recruta que vai virar soldado PM é de 40 tiros de revólver, 40 tiros de pistola e 40 tiros de fuzil. Enfim, 120 tiros no treinamento. Em Nova York, por exemplo, o policial só vai para as ruas quando acerta 95 tiros em 100. Mesmo o Bope, uma tropa de elite, pode estar distante dos padrões das unidades de operações especiais de outros países.
CC: Como no futebol, quem escala os jogadores é o técnico. Quem põe policiais despreparados na rua, orientados para o confronto, fica ao alcance da acusação de responsabilidade pelas tragédias.
2 comentários:
40 de revólver, 40 de pistola e 40 de fuzil onde?!
Só se for em Brasilia, aqui no rio foram 25 de revólver 38 com munição recarregada, 10 de fuzil e 10 de pistola 40 no Batalhão e olhe lá, porque outras turmas nem isso...
" Como no futebol, quem escala os jogadores é o técnico. Quem põe policiais despreparados na rua, orientados para o confronto, fica ao alcance da acusação de responsabilidade pelas tragédias."
Quem dera que estes "DESPREPARADOS, DÉBEIS MENTAIS, CORRUPTOS, OMISSOS e CONIVENTES, chegassem a ser responsabilizados por alguma coisa...
Quem dera que estes "DESPREPARADOS, DÉBEIS MENTAIS, CORRUPTOS, OMISSOS e CONIVENTES QUE ESTÃO A NOS COMANDAR chegassem a ser responsabilizados por alguma coisa...
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